Algoritmos estão filtrando consultas sobre "Humberto de Campos fake"?

Se existe um escritor brasileiro que é alvo de tamanha discriminação é Humberto de Campos, que parece pagar postumamente por uma resenha que desaprovou a "psicografia" de Francisco Cândido Xavier. Foi só desaconselhar a continuidade de práticas "mediúnicas" como as de Parnaso de Além-Túmulo para que o mundo virasse de cabeça para baixo na vida do autor maranhense.
Por razão sabe-se lá qual, Humberto morreu pouco depois, com a idade prematura de 48 anos. Em 1935, Chico Xavier inventou um sonho para forçar a "parceria espiritual" que, comprovadamente, apresentou irregularidades diversas.
Afinal, quem tem um hábito regular de leitura e que pudesse comparar as obras "mediúnicas" que levam o nome de Humberto de Campos (e, depois, de Irmão X) com a obra original do autor maranhense, verá que são estilos completamente diferentes.
Por sorte, o Brasil é marcado por uma burrice que estimula as pessoas a preferirem a idolatria cega a Chico Xavier, mesmo sob o disfarce da "admiração saudável e simples a um homem de bem". Em nome das paixões religiosas, se blinda um homem e a realidade dos fatos que se dane. Para os brasileiros, Allan Kardec é que "se acostume" com as abordagens dos seus deturpadores.
O que observa, recentemente, é que as buscas de mecanismos como Google e Yahoo! estão filtrando as páginas com as palavras chave "Humberto de Campos" + fake de forma a dificultar a compreensão das pessoas sobre o problema que envolve o escritor maranhense, praticamente "escravizado" pelo "médium" que, de maneira arrivista, tomou a herança do escritor para si.
É o único caso no qual alguém se apropria do nome de um outro escritor, cria obras de conteúdo claramente fake e não só sai impune na situação, como também se torna respeitado e apoiado nesse jogo sujo de usar um nome de alguém morto para fins de mistificação. Sem saber, os brasileiros passaram a apoiar algo que Kardec sempre reprovou, que é o uso de nomes ilustres para impressionar a sociedade e induzir ideias de mistificação religiosa.
A trajetória se tornou surreal pela impunidade triunfante que beneficiou o "médium", através das seguintes etapas:
1) A suposta obra mediúnica creditada a Humberto de Campos causou indignação nos meios literários, que a acusavam de grosseiros pastiches literários; a "Federação Espírita Brasileira" demonizou os especialistas literários e criaram vitimismo em Chico Xavier;
2) Os herdeiros de Humberto resolveram processar Chico Xavier e a FEB visando indenização ou participação na arrecadação dos direitos autorais; a FEB demonizou os herdeiros, sobretudo a víuva, Catarina Vergolino de Campos, acusando-os de "mercenarismo", reforçando o vitimismo do "médium", que lançava livros visando, em tese, o "pão dos pobres";
3) O processo, ocorrido em 1944, deu em impunidade; um juiz suplente, dentro de uma orientação jurídica não muito diferente das decisões tendenciosas e parciais do Judiciário e do Ministério Público de hoje em dia, que se deixaram levar pelo prestígio religioso de Chico Xavier e pelo status dos dirigentes da FEB; ou seja, sinal verde para usar o nome de "Humberto de Campos" desde que, para fins externos (fora do "meio espírita"), se adote o pseudônimo de Irmão X;
4) Os processos continuaram ocorrendo, porque os herdeiros recorreram da sentença judicial (que se valeu da tese discutível de que o "médium" é proprietário intelectual das obras "psicografadas" e que a autoria do morto só vale para o material deixado em vida), criando um sigiloso litígio. Em 1951, a viúva de Humberto, dona Catarina Vergolino de Campos, faleceu;
5) Num episódio que, oficialmente, é narrado como "reconciliação de Chico Xavier com aquele que o processou" e tido como "símbolo de misericórdia infinita e fraternidade", o "médium", se aproveitando da morte de Catarina e pelo interesse de Humberto de Campos Filho ao "espiritismo" brasileiro (favorecido pelo lobby que a FEB exercia nos bastidores da TV brasileira), resolveu assediá-lo através de um evento de pregação doutrinária e atos assistencialistas;
6) O assédio a Humberto Filho fez ele abandonar o rigoroso ceticismo para se tornar adepto de Chico Xavier. Há uma vídeo constrangedor com Humberto Filho, já idoso, se baixando diante de um Chico Xavier de cadeira de rodas, mas, mesmo assim, com uma submissão servil a um ídolo religioso. Passou-se a prevalecer a tese complacente à apropriação de Chico Xavier do nome de Humberto de Campos.
ALGORITMOS
Ao que parece, os "espíritas" passaram a "conhecer" a tática do empresário Steve Bannon (da Cambridge Analytica, responsável por espalhar fake news que favoreceram vitórias eleitorais de Donald Trump e Jair Bolsonaro) de favorecer causas e personalidades a partir da manipulação de códigos eletrônicos que influíssem na exibição dos assuntos relacionados, podendo selecionar as abordagens que devem ter maior destaque, em detrimento de outras que podem ter acesso "dificultado".
Só no Google, quando se fala da combinação de palavras-chave "Humberto de Campos" e "fake", ligados por um sinal de adição, as páginas que denunciam as irregularidades das "psicografias" são simplesmente poucas. É até natural que logradouros que recebem o nome do escritor tenham ênfase nas buscas, mas páginas críticas à "obra psicográfica" concorrem com páginas apologistas, que levam vantagem na aparição das páginas de buscas.
Os "espíritas" passaram a "namorar" os algoritmos a partir de uma técnica, que encomendaram à empresa Stilingue, de análise algorítmica das obras supostamente atribuídas a Humberto de Campos, Emmanuel e André Luiz. Os "robôs", numa técnica chamada Deep Learning - que elabora os deep fakes que alimentam as fake news nas redes sociais - , "constataram" que as "psicografias" eram "autênticas" e "diferenciadas".
Com isso, a "Federação Espírita Brasileira" parece ter gostado dos "robôs", a ponto de acioná-los nas redes sociais, principalmente o Twitter, toda vez que há um acúmulo de notícias trágicas na mídia. Entra em ação o nome "Chico Xavier", associado à sua pretensa profecia sobre a "data-limite", e o nome do "médium" aparece imediatamente nos trend topics, através de um mesmo roteiro usado por diferentes internautas, às vezes com pequenas diferenças textuais, em outras não:
"eu entrei no twitter e fiquei preocupado quando vi as seguintes palavras:
- krakatoa
- coronavirus
- fim do mundo
- data-limite
- chico xavier"
Vimos também que havia uma internauta que "pedia" para a palavra-chave "Chico Xavier" subir nos trend topics, deixando vazar que se tratava de um plano tendencioso, não muito diferente do que os bolsonaristas fazem, eles tão conhecidos por mandar "subir palavras-chave" nas redes sociais.
Isso mostra o quanto o "espiritismo" brasileiro, que um dia já se beneficiou com a repercussão publicitária da literatura fake trazida por Francisco Cândido Xavier, adota métodos não muito honestos de obter popularidade, dentro daquela fórmula narrada pela obra O Príncipe, de Niccolo Machiavelli (o nosso Nicolau Maquiavel): "Os fins justificam os meios".